Recadinho do coração do dia: Frustre expectativas (e fique bem com isso)

Por muito tempo eu vivi preocupada em agradar a todos. Sofri muito bullyng na escola (quando ainda nem tinha nome), e me desdobrava para ser aquilo que queriam que eu fosse e assim, quem sabe, fazer alguns amigos. Nunca funcionou. Os poucos amigos que tive gostavam de mim pelo o que eu era, e aquele povo babaca que me bullynava o fazia mesmo quando eu tentava ao máximo parecer legal. E a cada esforço desperdiçado, eu me machucava.

Se você é pobre e filha de mãe solteira as pessoas esperam que você tenha juízo, arrume um trabalho e comece a ajudar com as despesas da casa. E era exatamente o meu plano: terminar o ensino médio, arrumar um trabalho e quem sabe até conseguir entrar pra faculdade. Quando descobri, aos 18 anos, que estava grávida, um dos maiores motivos da minha tristeza foi pensar que eu estava decepcionando o que as pessoas queriam pra mim. Mas eu também frustrei muitas expectativas quando, ao invés de largar meu filho e sair pra gandaia, eu arrumei um trabalho para sustenta-lo. Um trabalho que não era aquele que eu sonhava pra mim, mas que dava independência e dignidade.

Inúmeras vezes eu tive que dizer um baita NÃO! e tomar as rédeas da minha própria vida. Mas a mais significativa delas foi quando me converti para a igreja protestante. De repente você que chegou até aqui apreensivo por estar prestes a assumir sua homossexualidade, ou a terminar um casamento, largar um trabalho dos sonhos dos seus pais para seguir seu próprio sonho, mudar de país ou assumir que não quer filhos pode achar exagero uma simples mudança de religião ser tão difícil pra alguém. Mas não foi - e ainda não é - nada fácil. Eu cresci em uma família espírita, com alguns católicos, fiz seis anos de catequese, mas nunca me encontrei em nenhum lugar que frequentava. E pra piorar eu era a primeira a dizer que odiava crentes, que tirava sarro, que fazia piadinha. Imagine então a minha surpresa quando eu me senti atraída para uma igreja evangélica num dos piores momentos da minha vida. Minha cabeça deu um nó! Mas meu coração me mostrou que ali estava o que eu busquei por um bom tempo.
Desde então são dez anos ouvindo piadinhas, dez anos não tendo pessoas especiais em momentos importantes da minha vida (como meu casamento e a apresentação da minha filha), dez anos sendo julgada, dez anos suportando grosserias, e tudo isso para poder ser eu mesma. Seria muito mais fácil seguir a maioria, engrossar o coro pra ser aceita. Mas não, obrigada.

Com a maturidade, a gente vai aprendendo que nem tudo o que as pessoas esperam que você faça é o melhor pra você. Na verdade é bem pelo contrário inclusive: As pessoas projetam em você a imagem seria mais confortável para elas mesmas encararem. As pessoas não querem ter que lidar com um homossexual no almoço de domingo. Não querem olhar uma gravida adolescente e enxergar nela o que sua omissão causou na vida de alguém. Não querem olhar em volta e perceber que a vida não é aquele comercial de margarina. Por isso idealizam filhos bem sucedidos, amigos bem casados, pessoas perfeitas.

Nunca deixe de seguir um desejo seu por medo de decepcionar alguém. As pessoas se decepcionam sim, mas depois passa. O que não passa é seu arrependimento por não ter vivido aquilo que queria viver. Não há sensação de paz maior do que perceber que na sua vida só você mete o bedelho - e mais ninguém.

Essa foi a dica da tia.

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